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A relação entre os EUA e o Brasil, após a eleição do Presidente Jair Bolsonaro, aparentava estar cada vez mais próxima. O Presidente da grande potência esteve bem alinhado ao Presidente Bolsonaro, aparentando aproximar e desenvolver a política externa dos países. Ao analisar os investimentos do país norte-americano em território brasileiro, percebemos que estes não passaram por nenhum crescimento. Comparando a anos anteriores, o ano de 2019 teve taxas de investimento inferiores ao ano de 2017, 2,2 bilhões de dólares e 2,9 bilhões de dólares, respectivamente.
Os EUA se tornaram centro da política externa brasileira em 2018 e a derrota do atual Presidente pode desestabilizar os pilares de Bolsonaro, tal qual uma mudança no cerne ideológico. Já é sabido que o Ex-Presidente Trump e o atual Presidente Bolsonaro partilhavam de uma cartilha de posicionamentos políticos. Ambos compartilham da questão conservadora e também da intervenção agressiva por parte do Estado em pontos que, ao ver dos governantes, devem ser de maior relevância. Também tratando do Estado, os dois compartilham o pensamento liberal que tange à menor participação do Estado em certas empresas, defendendo a privatização destas e também apoiando-se no conceito econômico de um sistema de livre iniciativa.
Outro ponto comum é o fortalecimento e incentivo a uma população armada, promovendo um ambiente volátil. Por via de regra, em visão político-econômica, é sempre vantajoso manter uma boa relação diplomática com países de grande influência. No entanto, a percepção é que o Governo Federal Brasileiro manteve boas relações com o Governo Trump ao invés do Estado norte-americano, propriamente.
O novo presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, defende dentre suas pautas, principalmente, a ambiental e de saúde. Acerca da pandemia, o candidato é a favor de um investimento de trilhões de dólares para a recuperação econômica pós-pandemia, visando a criação de novos empregos - principalmente nos setores industrial, de saúde e de energia limpa. É possível perceber, com esse último ponto, portanto, sua bandeira de políticas ambientais, sendo o desenvolvimento sustentável um dos focos na sua corrida presidencial. Dentre suas promessas em relação a esse assunto, está o investimento de cerca de 2 trilhões de dólares em infraestrutura e transportes públicos não poluentes, além de mais empregos no âmbito da energia limpa e da construção de residências mais sustentáveis.
Na contramão da pauta sustentável de Joe Biden, encontra-se o governo brasileiro, com posicionamentos que podem trazer significativos impactos a política externa brasileira e a relação entre os dois países. Biden tem sido, inclusive, muito direto em seus discursos no que diz respeito ao seu incômodo pela situação do desmatamento na Amazônia, criticando as queimadas em um dos recentes debates presidenciais e falando em um possível consórcio entre diferentes países, com o intuito de destinar U$ 20 bilhões ao Brasil para o combate às chamas.
Contudo, é importante que seja notada a intensificação do discurso do candidato, chegando a falar sobre sanções econômicas ao Brasil, caso as chamas não sejam de fato combatidas. Ademais, é necessária uma análise acerca da relação entre Brasil-China no setor agroexportador, uma vez que com a vitória do candidato democrata, existe a possibilidade de um enfraquecimento na atual guerra comercial entre EUA-China, sob a administração de Trump, que tem favorecido o agronegócio brasileiro.
Ainda não é possível saber quais pautas o presidente Jair Bolsonaro estaria disposto a se adaptar, ou até mesmo, a abrir mão visando a boa relação diplomática entre os dois países. Contudo, demais atores políticos brasileiros, como o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o do Meio Ambiente, Ricardo Salles, têm encarado a vitória de Biden de maneira mais pragmática, visto que existem assuntos de interesse mútuo entre os dois países que não podem ser excluídos da agenda diplomática.
Araújo, inclusive, fez parte de diálogos entre os dois países quando Biden ainda era vice-presidente do governo Obama, durante o ano de 2013, época do escândalo envolvendo o vazamento de documentos secretos da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) que indicavam uma espionagem do governo americano para com a presidente da época, Dilma Rousseff. Sendo assim, é possível que sua influência seja utilizada para a retomada de contatos na política norte-americana em prol de uma manutenção na relação entre os países. No que diz respeito ao meio ambiente, apesar de divergências, Biden sinalizou que pretende voltar ao acordo de Paris, que havia sido desprezado por Donald Trump, enquanto Bolsonaro, diz ter interesse em continuar assinante do tratado.
Apesar de ter escolhido manter relações com o governo americano em vez do Estado, é provável que a equipe técnica do governo Bolsonaro sugira uma mudança de estratégia de relação, a fim de manter boas relações com os Estados Unidos, mesmo diante da mudança presidencial.