Reflexões sobre o TechDay 2025 da FGV
Participei do TechDay na FGV, evento promovido pelo professor Eduardo de Rezende Francisco. Foi uma excelente oportunidade para refletir sobre a inteligência artificial sob diferentes prismas — do técnico ao filosófico. Afinal, trata-se de uma tecnologia que desafia profundamente a forma como nos identificamos enquanto seres humanos, já que ela começa a realizar tarefas historicamente atribuídas exclusivamente às pessoas. A partir do que ouvi, compartilho algumas reflexões:
Reconheço que a velocidade das mudanças traz incertezas e, naturalmente, medos. A evolução humana não nos preparou para transformações tão abruptas. Basta pensar que a revolução agrícola levou milênios para se consolidar, e ainda hoje sentimos seus efeitos — como o sedentarismo — porque nossos corpos foram moldados para o movimento constante e a diversidade alimentar. Agora imagine uma revolução que muda tudo em questão de meses, como a da IA.
Na minha visão, a melhor forma de lidar com essa transformação é entender o que não muda. E, para isso, precisamos compreender a IA por dentro — seus fundamentos e limitações — para atravessar essa era como surfistas sobre a onda, e não como náufragos sendo arrastados por ela.
Mas afinal, o que é a IA por dentro? De forma simples, trata-se de um software capaz de reconhecer padrões com um custo de desenvolvimento muito mais baixo e com flexibilidade muito maior que as gerações anteriores. Uma outra maneira de enxergar é pensar na IA como um “super buscador de informações”: um tipo de “Google multimídia” mais poderoso, porém desprovido de julgamento crítico.
Sob essa perspectiva, chego a uma conclusão: a IA não irá substituir o ser humano enquanto for apenas uma máquina. E acredito que isso permanecerá assim por muitas décadas, pois atribuir agência e direitos às máquinas exige que primeiro definamos o que é consciência — um debate extremamente complexo. A habilidade mais valiosa do ser humano continua sendo a capacidade de exercer julgamento crítico sobre o impacto de suas decisões em outras pessoas e no mundo. É o famoso dilema do bonde: não existe uma resposta certa ou errada — e isso é algo que aprendemos rapidamente ao entrar na vida adulta.
Portanto, se pensarmos a IA como uma poderosa ferramenta de busca e análise contextual, ela pode nos ajudar a tomar decisões muito melhores. Ao reduzir drasticamente o custo de acesso à informação relevante, ela libera nosso tempo para nos dedicarmos a atividades mais humanas. E, para mim, é esse o verdadeiro papel da tecnologia: nos tornar mais humanos — e não o contrário.
Como disse o professor Pedro Santi no “Painel 3 - Vida Cotidiana: IA nas ruas, nas casas e nos bolsos: e agora?”, conseguimos identificar se somos escravizados por uma tecnologia quando conseguimos nos desvencilhar dela, ainda que temporariamente. E eu complemento: se você consegue ser mais humano com o uso da IA, então está no caminho certo.