escolha das medidas preventivas adotadas, no controle da COVID-19, e sua estratégia de aplicação estão intimamente ligadas aos objetivos de controlar qualquer desrespeito em agravos à saúde desta mesma magnitude, ou seja, neste caso não há nada de novo. O conhecimento técnico-científico que se tem dos fatores de risco, da transmissão, fisiopatologia clínica e terapêutica do agravo, ainda bastante incertos, bem como a disponibilidade de recursos e a urgência / emergência que o caso requer, influenciam na fixação das decisões e ações estratégicas a serem tomadas ou não.
Cada caso ou situação do emprego urgente de medidas de prevenção, de controle e de contenção de riscos, de danos e de agravos à saúde pública em situações como esta, pode ser o fator preponderante para se obter resultados positivos na erradicação, eliminação, redução da incidência, redução da gravidade e redução da letalidade/mortalidade.
O trabalho em saúde e o trabalhador da saúde são peças fundamentais para garantir que as ações e medidas adotadas para prevenção e controle das doenças e agravos à população sejam realmente efetivas.
Porém, considerando o coronavírus, a evolução e agravo da pandemia depende de três condições em especial: (1) pessoas – densidade demográfica, (2) movimentação social (aqui as pessoas se contaminam), e (3) condição socioeconômica - pobreza.
Tal condição nos leva no mínimo a uma pergunta: os valores atuais que damos à saúde, às pessoas e às condições sociais e do trabalho serão tratadas como no futuro - presente?
Uma certeza temos. Os mais pobres sofrerão mais, considerando as suas condições de defesa, menos acesso a comida, água, e locais para isolamento.
Tentaremos criar alguns elementos que possibilitem identificar pontos de reflexão sobre esta pergunta e demais questões envoltas a tal cenário. Assim, não entraremos em detalhes das condições epidemiológicas da doença, mas sim nas condições satélites.
Fica claro e evidente que a estruturação e a organização de um sistema de saúde, seja ele público ou privado, fica fragilizado quando esse sistema está frente a uma pandemia que atinge todos os níveis de uma sociedade, como é o caso da COVID-19 (Coronavírus Disease-19).
Apesar de ainda não estar claro a origem do novo coronavírus (SARS-CoV2), estudos científicos sinalizaram possíveis mutações virais que poderiam colaborar para o aparecimento do SARS-CoV-2 (Andersen, et. al., 2020; Corman, et. al., 2018).
Diante do aparecimento do SARS-CoV-2, o mundo enfrenta o maior desafio em saúde do século XXI - evitar o colapso total dos seus próprios sistemas de saúde, mesmo considerando que, por via de dúvidas, esses sistemas foram estruturados em diversas linhas, levando em consideração características históricas, geográficas, socioeconômicas, e sobretudo, culturais.
Apesar de o Brasil possuir um dos sistemas públicos em saúde (Sistema Único de Saúde - SUS) mais bem contextualizados à realidade do País, hierarquizado em níveis de atenção, e pautado na universalidade, equidade, igualdade e integralidade, este não é profuso o suficiente para garantir o acesso qualificado a todos que tiveram contato com o vírus e para garantir proteção àqueles que ainda não.
Não porque o SUS é ineficiente ou não qualificado para tal, mas porque a proteção se dá por uma série de condicionantes que variavelmente não estão sob o domínio dos sistemas de saúde, tal qual: política partidária, religião e religiosidade, negacionismos coletivo, apatia ou ruptura das instituições de governança dos países, vaidade socioeconômica, e, em última instância, ausência total de oxigênio no cérebro, ou seja, incapacidade de raciocinar preventivamente coletiva e individualmente.
Está mais do que comprovado que, até o momento, as medidas mais eficazes de combate ao causador da COVID-19 estão sendo o isolamento social e a conscientização da população.
Considerando essas medidas e a forma como o SUS é estruturado, todas as ferramentas necessárias para mitigar o impacto desta doença estão disponíveis, seja para (i) viabilizar o fluxo de pacientes infectados, com disponibilização de tecnologias de maior complexidade, como o caso das UTI e respiradores, (ii) para monitorar os casos em isolamento domiciliar, seja para a proteção da população em geral ou prevenção de complicações evitáveis, para tanto, os níveis de atenção da rede e as Estratégias de Saúde da Família (ESF) devem ser considerados no combate ao causador da COVID-19. Destaque aqui para uma atenção mais do que prioritária às populações vulneráveis como é o caso da população de rua, dos migrantes, refugiados, das periferias (mais pobres) das grandes cidades e principalmente dos povos nativos brasileiros, tradicionalmente chamados de povos indígenas, com orientação específica e ordenada nos Polos-Base de Saúde Indígena (PBSI), dentre outras, uma vez que esses grupos populacionais apresentam uma grande predisposição a contrair doenças infectocontagiosas, devido ao contexto de vulnerabilidade socioeconômico e ambiental, em que esses grupos estão inseridos.
Gestão destas instâncias e de outras redes de articulação em prol da garantia da participação social de forma eficiente, com uma rede de informação séria e comunicação ao cidadão sobre estes espaços de participação se torna peça chave para garantir a percepção do cidadão como ator fundamental na reivindicação pelo direito à saúde.
Busca-se, desta maneira, que atores sociais historicamente não incluídos nos processos decisórios do país participem, com o objetivo de influenciarem a definição e a execução da política de saúde e que esta não seja para satisfazer egos, segmentos ou grupos econômicos, ideológicos ou religiosos, muito menos familiares, mas sim da população em geral, conforme preconiza a própria constituição brasileira.
Aprendemos, desde muito cedo, a desmembrar os problemas, a fragmentar o mundo. Aparentemente, isto torna as tarefas e assuntos complexos mais administráveis, mas em troca, pagamos um preço oculto muito alto. Não conseguimos mais perceber as consequências das nossas ações, perdemos a noção intrínseca de conexão com o todo.
À medida que o mundo se torna mais conectado, os negócios se tornam mais complexos e dinâmicos. As organizações que realmente terão sucesso no futuro serão aquelas que descobrirem como cultivar nas pessoas o comprometimento e a capacidade de aprender em todos os níveis da organização.
Segundo Senge, Peter M., 2012, nosso sistema predominante de administração destruiu as pessoas. Elas nascem com uma motivação intrínseca, autorrespeito, dignidade, curiosidade em aprender, alegria na aprendizagem. As forças de destruição começam quando somos crianças – notas na escola, disputas na adolescência – e assim por diante até a universidade. No trabalho, as pessoas, as equipes e as divisões são ranqueadas, com recompensas para os melhores e punição para os piores.
A administração por objetivos, pagamento de incentivos, planos de negócios, se colocados separadamente, para cada divisão, geram perdas ainda maiores, desconhecidas e que nem nos é possível calcular, formando rótulos superficiais para ferramentas e técnicas de gestão. Um olhar mais profundo para os profissionais de saúde, tais condições são intensificadas e agravadas pela pressão do dia a dia, a luta pela vida e sobrevivência, pelas condições precárias de trabalho e, atualmente, pela pressão de parte da sociedade, com discriminação e até agressões físicas devido a pandemia.
Assim, estimular aspirações, desenvolver capacidade reflexivas e entender as complexidades, em ambientes como estes, são fundamentais para gerar sistemas e conexões profundas entre o trabalho, os sujeitos, o ambiente e a VIDA.
A nova condição que se apresenta para o mundo, aposta na autonomia das pessoas, nas instituições públicas e privadas e da rede de serviços, de maneira geral, pelo uso de diferentes tecnologias ou novas tecnologias chamadas integrativas, busca interagir os processos de trabalho, as relações humanas e profissionais, caracterizando a descentralização de processos e atividades, situação definida inclusive pela nova revolução industrial, a chamada indústria 4.0, como uma nova condição de trabalho e convívio social.
Para tanto, as equipes deverão ser preparadas para lidar com a dimensão subjetiva nas práticas do cotidiano profissional, efetivada num modelo de gestão que inclua a participação dos profissionais, dos clientes e dos usuários dos serviços prestados ou consumidores e agora das FAMÍLIAS.
Assim, aprimorar e promover saúde nos locais de trabalho, que não mais – necessariamente – será no local de trabalho, como capacidade de compreender e analisar o trabalho de forma a fazer circular a palavra, criar espaços para debates coletivos é um dos novos desafios que se apresentam.
A gestão coletiva das situações de trabalho, critério fundamental para a promoção de saúde do trabalhador e da equipe gestora, passa a ter um novo significado - o de compreender as situações nas quais os sujeitos estão envolvidos e sua capacidade de intervenção no processo de tomada de decisões no âmbito das organizações de trabalho, ou seja, aprende-se a fazer inventando, segundo um processo contínuo e permanente de aprendizagem, de construção e “desconstrução” de saberes, valores, concepções. Trata-se de inventar pela prática de tateio, de experimentação, de problematização das formas já dadas, em outro ambiente de convívio e do respeito ao outro.
Atualmente, trabalhar nesta perspectiva é, sem dúvida, contribuir para o pleno desenvolvimento do planeta e da humanidade, agregando valores inestimáveis à gestão de negócios, conferindo inovação e uma nova concepção de relações humanas.
Referências
1. Victor M Corman, Doreen Muth, Daniela Niemeyer, Christian Drosten. ffiliations expand. Hosts and Sources of Endemic Human Coronaviruses. Adv Virus Res. NIH: https://www.nih.gov/coronavirus. Epub 2018.
2. Andersen, K.G., Rambaut, A., Lipkin, W.I. et al. The proximal origin of SARS-CoV-2. Nat Med 26, 450–452 (2020). https://doi.org/10.1038/s41591-020-0820-9
3. Senge, Peter M., A Five discipline. Schools That Learns. Crown Business. 2012.
Joselito Pedrosa
Possui graduação em Biologia, pela Universidade de Taubaté/SP (1996), Especialização em Processos Educacionais na Saúde com ênfase em avaliação de competência, pelo Instituto de Ensino e Pesquisa - IEP do Hospital Sírio Libanês-HSL (2017), Especialização em Vigilância em Saúde, também pelo IEP/HSL (2107), em Metodologias Ativas de Ensino e Gestão da Clínica Hospitalar pelo IEP/HSL e Fundação Dom Cabral-FDC (2010), Especialização em Gestão da Atenção à Saúde pelo IEP/HSL e FDC (2009), Especialização em Biologia Molecular pela Universidade de Taubaté/SP (2001) e Especialização em Patologia Clínica pela Universidade de Mogi das Cruzes/SP (1997). Com sólida experiência na gestão pública, construída ao longo de 24 anos de atuação, em sua última atividade como gestor público acumulou as funções de Coordenador Geral de Assuntos Regulatórios e Diretor Substituto do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. Atualmente, CEO – fundador da Navegador JP2 Consultoria Empresarial e Gestão em Saúde.
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